O
Sr. HDF, 58 anos, sexo masculino, negro, caminhoneiro, procedente,
procurou o ambulatório do Pronto Socorro queixando-se de forte dor no
hálux direito.
O
paciente chegou ao ambulatório calçando um chinelo no pé direito porque
não conseguia colocar o sapato. O paciente relata que o problema se
iniciou há três dias. No primeiro dia tomou Tylenol que não fez nenhum efeito. Passou então a tomar um comprimido de Melhoral de 6 em 6 horas. A dor aliviou um pouco, mas notou que o pé também estava ficando inchado e quente.
Continuou
tomando Melhoral 3x/dia.Procurou atendimento porque acordara de
madrugada com muita dor e que até o toque das cobertas o incomodava
demais. Sentia muita dor no dedo e o pé estava muito inchado, vermelho, o que o impedia de calçar o sapato.
O paciente relata também que sente dores nas articulações desde os 40 anos de idade e que nunca procurou atendimento achando que deveria ser um reumatismo e que se tratava tomando Aspirina, Melhoral, chás que alguém recomendava. Mas que desta vez a coisa ficou feia. O paciente relata que bebe “socialmente (gosta de cerveja). Tem um histórico de hipertensão e que toma um diurético (clorotiazida) e um anti-hipertensivo (Enalapril).
Ao exame físico o paciente apresentava temperatura axilar de 37º C; frequência cardíaca de 98 bpm e pressão arterial de 155 x 100 mmHg; altura 1,70m; peso 89kg. Além do edema observado no hálux direito o paciente também apresentava discreto edema nas demais articulações metatarsofalengeanas e nas articulações dos dedos da mão.
Dados laboratoriais: Hemograma completo normal; Cálcio
9,2mg/dl; Fosfato 4,3 mg/dL; Prova de função hepática e renal normais;
Urinálise normal; Fator reumatóide normal; Ácido úrico 10,4mg/dL
TRATAMENTO:
Foi medicado com Arcoxia 120mg (um comprimido uma vez ao dia) e Colchicine 0,5mg (uma cápsula três vezes ao dia) e recomendou que o paciente retornasse assim que melhorasse.
Após 15 dias o paciente retorna assintomático e recebe orientações comportamentais e dietéticas.
Relação do paciente com Gota e o Álcool:
Para o paciente com hiperuricemia
ou gota, não deve ser associado ao consumo de bebidas alcoólicas, sua ingesta
aumenta a uricemia por incrementar a degradação do ATP em adenosina monofosfato
(AMP) (PUIG, 1984), que é rapidamente convertido em ácido úrico. Por outro
lado, a desidratação e a acidose metabólica, relacionadas com o consumo
excessivo de bebidas alcoólicas, reduzem a excreção renal de ácido úrico, contribuindo
para a hiperuricemia (LIEBER, 1962).
Encontrou-se a associação
positiva entre o consumo de álcool e gota, independente da dieta e de outras
causas de hiperuricemia, como idade, IMC, hipertensão arterial, uso de
diuréticos e insuficiência renal crônica. Quanto aos diferentes tipos de
bebidas alcoólicas, o consumo de cerveja tem associação positiva mais forte com
o risco de gota, pois o consumo de destilados também foi significativamente
associado com gota (PINHEIRO, 1996). Fazer uso de bebidas alcoólicas durante ou
logo após um episódio agudo pode prolongá-lo ou reduzir o intervalo de recidiva.
Após o controle adequado de uma crise aguda, a ingestão de uma quantidade
moderada (por exemplo, uma taça de vinho ao dia) pode ser permitida. O uso de
cerveja, principalmente em grandes quantidades, deve ser formalmente evitado.
Referências Bibliográficas
- Lieber CS, Jones DP, Losowsky MS, Davidson CS: Interrelation of uric acid and ethanol metabolism in man. J Clin Invest, 1962.
- Pinheiro GRC, Andrade CAF, Conceição LHR, Bomfim MG, Klumb EM, Levy RA: Avaliação do grau de conhecimento sobre a doença e terapêutica nos pacientes com artrite gotosa. Rev. Bras. Reumatol 36: 196, 1996.
- Puig JG, Fox IH: Ethanol-induced activation of adenine nucleotide turnover. Evidence for a role of acetate. J Clin Invest, 1984.